“Super 75”, de Patrícia Vieira Campos
Estive no Shortcutz Porto, nos Maus Hábitos -Espaço de Intervenção Cultural -, a assistir a onze filmes ou películas de super oito milímetros de onze realizadoras. Filmes criados para o Douro Film fest OPPIA – Oporto Picture Academy, a convite de Cristiano Costa Pereira. Adorei!
Eis os filmes:
“Super 75”, de Patrícia Vieira Campos (Pat) [1º Prémio]
“Memória, substantivo feminino”, de Lu Sequeira [Menção honrosa]
“A cabeça no ar ou O ar na cabeça”, de Mariana Figueroa [Menção honrosa]
“O Amor eterno não é um mito urbano”, de Isabel Venceslau
“Ariadne e o Minotauro”, de Filipa Gomes
“sem título”, de Amarante Abramovici
“Bailarina amparada”, de Ana Tinoco
“Entranhas”, de Patrícia Nogueira
“Confia que o tempo também devolve”, de Marina Zincovitch Botelho
“Autumn”, de Mervi Junkkonen [Menção honrosa]
“Tons”, de Diana Oliveira.
Super 75, Patrícia Vieira Campos
Gostei muito das 75 Ninfas de Patrícia Vieira Campos. Estas deusas fazem a sua aparição no Largo do Padrão no Porto. Param o trânsito…naturalmente. Porém, cinematograficamente. Dialética de opostos?
As Ninfas… [ Clicar para ampliar a imagem ]
“Fiquei feliz de terem aparecido tantas mulheres, 75, disponíveis para participarem no meu desafio. Fico sempre admirada como quando se fala em filmes (participar em filmes) o “cinema” ainda exerce um encanto especial sobre todos nós.
O Largo do Padrão está ligado à cidade e a muitas pessoas de forma emotiva (por exemplo, o meu avó teve por ali um escritório) e é uma confluência de seis ruas que se cruzam. Este cruzamento intricado interessava-me de forma a metaforizar as nossas vidas.”
Patrícia Vieira Campos
Quando o exterior é interioridade pura…não há opostos, há lados que convergem simetricamente. Há mulheres que são protagonistas de filmes como este, quer enquanto personagens, quer enquanto realizadoras, quer enquanto construtoras e criadoras das suas próprias existências. Mas tal como as ruas, múltiplas e complexas, confluem no Largo, estas mulheres são mães, atrizes, realizadoras, filhas, tias, avós, amigas, amantes, amadas…
Memória, substantivo feminino, de Luísa Sequeira
Destaco também o lindíssimo filme de Lu Sequeira, como uma espécie de filigrana em movimento. Filme batismo, quer dizer, inaugural dado que acompanha os elos que se urdem através da genealogia dos Afetos.
Entranhas, de Patrícia Nogueira
As “Entranhas” do filme de Patrícia Nogueira são simultaneamente literais e metafóricas.
O filme adentra-se na família e a filha/uma filha/ é puro entranhamento, ou seja, o mais profundo, radical e visceral que brota do ser humano.
E a cena final das vísceras a serem arrancadas do peixe é deliciosa. Não será o parto a falência do regime de propriedade privada?
E o facto da psicologia admitir que as emoções são públicas e os sentimentos privados, talvez clarifique a tarefa da/o cineasta enquanto captação e erupção do singular.
Os Afetos precisam das ruas e do Largo de Patrícia Vieira Campos, dos elos imorredouros dos (tios) nubentes no filme de Luísa Sequeira feitos de sentidos ora ascendentes, ora descendentes, personificados na filha particular, ou nas filhas universais, do filme de Patrícia Nogueira.
Sim, creio que nesta tríade de filmes há uma unicidade, uma co-realização (in)consciente. 75 M.M. Mulheres Maravilhosas. Ontologia da harmonia. De Afrodite a Eros. Da(s) Película(s) para toda a Humanidade/Eternidade.
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“Nota Marginal”: Esta nova rubrica “outras cinefilias” é constituída por outros amores – amores cinéfilos – e só aparentemente é que não se relaciona com o Plano Nacional de Cinema.
Dado que consubstancia, para mim, uma prática preciosa e insubstituível na formação e elevação da minha sensibilidade estética e que consiste em ver filmes nos mais variados contextos, como por exemplo, em festivais, encontros, observatórios, mostras, retrospetivas e ouvir os seus realizadores. Única forma para aprender sobre Cinema. E um privilégio.