O Cinema na ESA. Por Débora Gonçalves

O Cinema está à tua espera dia 12 junho CA 001

 

“Durante seis anos fui aluna da ESA. E nos últimos três anos convivi com a existência de um clube que me estimulava apenas porque eu sabia que existia. Inicialmente, e nos meus anos de novata, olhava para um cartaz afixado na parede e cuja fonte eu desconhecia, e ficava estranhamente satisfeita ao contemplá-lo. Havia cinema algures na ESA.
Quis o tempo que eu crescesse, e quase que incompreendidamente fui parar a uma sala de aula cuja professora era precisamente a mentora daquele clube que há anos eu sabia que existia. E que em silêncio reconhecia. Pude finalmente olhar o clube de cinema com os olhos de uma espetadora completamente enamorada, e como uma aluna extremamente grata pelo privilégio de ser instruída a contemplar a arte que sempre sentira minha.
Descobri que o cartaz que durante anos me animara era da autoria de um professor da escola. Júlio Cunha é o seu nome. Prezo-lhe o mérito, agradeço a cativação que em mim gerou, e a diretriz que me providenciou.
Relembro, já com alguma nostalgia as curtas-metragens a que assisti e os momentos de puro debate que a elas se seguiam. Nós, turma e afins, estávamos ali não só para ver mas para aprender a ser espetadores ativos, e críticos. Sempre nos foi incutida uma regra, a de não sermos passivos. Refletíamos, discutíamos e concluíamos. No final com bom grado por vezes revíamos o nosso objeto de análise. Outras vezes deixávamos que a rotina fruísse e esperávamos fervorosamente que nos colocasse de novo diante da arte que nos fazia acreditar que os verbos “aprender” e “ser” não se consagram apenas nos livros, e nos cadernos.
Com o tempo fui construindo uma maturidade cinematográfica, em grande parte gerada e impulsionada pelo ambiente cinéfilo que felizmente a minha escola me proporcionava.
Lamentava o pouco tempo disponível que tinha para analisar, e para viver aquela salinha ali ao lado da biblioteca. Esse espaço que foi muitas vezes o meu refúgio clarificou-me a alma.
No último ano do meu ensino secundário, vi a minha escola alcançar pelas mãos daquela que será para sempre a minha mentora, um feito de inestimável valor. O plano nacional de cinema desabrochou, e rapidamente deu frutos. Declarei-o com especial emoção na última reunião de conselho geral a que assisti, e deixei bem claro que enquanto representante dos alunos da escola me sentia desmesuradamente orgulhosa pelo passo que naquele ano tinha sido dado na Escola Secundária/3 de Amarante.
Assumo que fui uma privilegiada. Pude assistir de perto ao erigir do projeto que mais me dizia, e do qual eu queria fazer parte dando o meu mais singelo e pequeno contributo. Apoiei firmemente a causa, e com um orgulho disfarçado no meu sorriso procurei estar por perto. Vi o PNC a superar-se.
Creio que Manoel de Oliveira ficaria radiante só de imaginar a sala de cinema Teixeira de Pascoaes a abarrotar de miúdos que em pouco tempo aprenderam a contemplar os filmes, e que naquele dia se desfizeram em alegria ao assistir ao primeiro dos filmes do mestre. Aniki Bobó fê-los felizes. Talvez se tenham revisto um pouco nas aventuras de Carlitos e Eduardo para conquistar a Teresinha. E quem sabe se as travessuras do menino Batatinhas não refletem muitos dos alunos que agora aprendem a ser espetadores?
Os meus anos na ESA chegaram ao fim. Entrei uma criança, saí quase uma mulher. Sagrou-se o momento de prosseguir. Hoje, sou aluna na Universidade da Beira Interior. Estou no primeiro ano da licenciatura, e Cinema foi a minha escolha. Não podia estar mais certa da minha decisão, agradeço à ESA e a quem nela me levou pela mão e me ensinou a contemplar a arte que sempre fora a minha.

Débora Gonçalves“

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