Não estava à espera de ser premiada com o Global Teacher Prize Portugal 2021 e ouvir a Presidente honorária do júri, a Professora Elvira Fortunato, proferir o meu nome na cerimónia que decorreu, no dia 18 de junho de 2021, na Federação Portuguesa de Futebol.
Não estava à espera de ser premiada porque há outros professores com projetos magníficos.
Não estava à espera de ser premiada porque nunca tive grandes recursos ou financiamentos para realizar a pequena utopia de incluir no projeto “Filosofia com Cinema” as crianças, os jovens e os séniores, independentemente da idade e das suas dificuldades, de frequentarem ou não a escola.
As minhas iniciativas na comunidade são gratuitas e voluntárias, como a “Filosofia com Cinema para Crianças” e as sessões com os CineSéniores da Casa da Boavista.
É certo que alguns colegas e amigos, algumas instituições amarantinas, de outras cidades e até de outros países, reconhece(ra)m o valor do projeto e transforma(ra)m este desejo pessoal em desejo plural.
Não estava à espera de ser premiada porque os preconceitos amputam o pensamento e minam toda a lucidez que deve orientar a ação.
Decorridos alguns meses da atribuição do prémio ouvi alguém dizer: “é extraordinário que sendo de Filosofia tenha ganho o prémio.”
Opinião negativamente ordinária porque está enfeudada no desconhecimento do valor, do labor e da importância da Filosofia. Não há conhecimento que alie, de forma tão essencial, vital, a teoria à praxis. Não (me) é possível equivaler o fim da aula de filosofia ao fim do pensamento e da ação filosóficas.
Não sou uma pessoa durante e outra após o tempo concedido para a disciplina de Filosofia. Penso e ajo filosoficamente. Espero que um dia os alunos descubram este eco dentro de si.
A Filosofia resiste aos tempos (do superficial e do efémero) aos espaços (está dentro e fora da sala e da escola) e, sobretudo, resiste e destrói os preconceitos. É uma forma de resistência que nos permite desenvolver as competências humanizadoras. É uma forma de resistência que nos permite intervir nas comunidades, educativa e civil, melhorando-as.
Quem conhece o “Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória” percebe a sua ancoragem filosófica.
E que dizer da relação da Filosofia com o Cinema na Escola?
Não é, nunca foi “passar o tempo a ver filmes” de forma impreparada e acrítica. Exige conhecimentos específicos de semiótica cinematográfica, um árduo e singular trabalho de construção-desconstrução.
O Cinema tem uma forte cumplicidade com a Filosofia, dado que é inquietante, operando por camadas de sucessivo aprofundamento revela-se emancipador. Acho que tem uma vocação filosófica ou será o contrário?
O Cinema, tal como a Filosofia, está dentro e fora da Escola, resistindo a todas as clausuras e monopólios.
O projeto Filosofia com Cinema permite descobrir e interrogar a obra fílmica, descobrindo-se e descobrindo os outros. Eleva-nos. Humaniza-nos.
Educar o olhar para ampliar o pensar, o sentir, o imaginar e o agir, eis a máxima.
Foi/é surpreendente e inenarrável tudo o que descobri, experienciei, partilhei, aprendi, durante este ano.
Confesso que continuam a crescer-me “pequenas utopias” e um dia, ou noite, falarei sobre elas.
Por agora, reitero que a Educação será sempre a esperança em ação e que é uma honra ser Professora-Educadora em Amarante.
Sinto este Prémio em contracorrente e isso agrada-me. Respeito-o e procuro honrá-lo.
Muito grata aos membros do júri – Elvira Fortunato, Afonso Mendonça Reis, Pedro Carneiro, Sofia Barciela -, por terem respeitado e enaltecido a importância da Filosofia e do Cinema na Educação.
Muito Obrigada, Alunos, Colegas, Parceiros, Amigos, Família,
Continuemos a criar e a realizar as pequenas utopias.