Concurso Cineliterário: Duas Amigas com “Três irmãs”

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A Biblioteca Escolar (BE) da Escola Secundária/3 de Amarante, em colaboração com o Cineclube de Amarante (CA), dinamiza todas as semanas e desde o ano letivo 2010-11, o “Concurso Cineliterário”, com o objetivo de sensibilizar os jovens para a importância da literatura e do cinema. É que a literatura e o cinema são pretextos de reflexão, suscitando uma inquietude interior, pré-requisito da interrogação radical, alicerce e cúmplice da singular capacidade de aprender.

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A primeira vencedora do concurso, neste ano letivo, foi a aluna Ana Rita Félix que, ao responder acertadamente à questão proposta, ganhou um bilhete duplo e levou a amiga, Inês Costa, à sessão do Cineclube de Amarante.

Em que consiste o Concurso Cineliterário?
Todos os alunos, de todos os ciclos de ensino, são convidados a responder a uma questão no âmbito da literatura ou cinema (autoria de um poema ou de outra obra literária, completar um verso, identificar um realizador, o fim de um filme, o ano de realização, etc.).
O cartaz com a questão é, impreterivelmente, inspirado no filme que o CA exibe nessa semana.
A BE dispõe de um formulário de resposta e de uma “caixa” na qual as respostas são depositadas pelos alunos. Dado que as sessões do Cineclube de Amarante se realizam à sexta – como era habitual, mas também ao domingo, o sorteio é realizado durante a manhã de sexta e os vencedores são contactados via telemóvel, tendo direito, normalmente, a um ou dois bilhetes duplos para as sessões (sexta e domingo) no cinema Teixeira de Pascoaes, habitat do CA.
Com esta sessão, a Ana Rita Félix e a Inês Costa foram apresentadas ao cinema de Wang Bing. Que estreia!

As duas surpreenderam-me com uma reflexão sobre o filme “As três irmãs”, de 2012. Aqui fica:

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“Três Irmãs” é um documentário maravilhoso. Com grande meticulosidade, Wang Bing, transmite uma realidade bem patente na China rural de 2010, experienciada por três irmãs de quatro, seis e dez anos.
Nós, que em 2010 tínhamos onze anos, frequentávamos o quinto ano de escolaridade e vivíamos confortavelmente com a presença dos nossos pais, ficamos particularmente sensibilizadas e horrorizadas com as condições de vida das protagonistas. Infância sem graça ou desgraça.
É terrível constatarmos que estas crianças vivem numa situação semelhante à de Portugal provinciano da geração dos nossos avós.
Com o pai a trabalhar fora e a mãe longe do seu alcance, é a filha mais velha que assume as responsabilidades. Trabalha nos campos, forçada pela tia e pelo avô, tal como outras crianças da vizinhança; é responsável pela roupa, insuficiente para as condições climatéricas adversas das montanhas; pela educação das irmãs e pela casa que, por sua vez, não dispõe de mínimas condições de salubridade; frequenta a escola mas esta parece-nos ficar muito aquém das suas necessidades.
Ao longo de todo o filme, observamos ambientes degradantes e sujos, onde as pessoas, o gado e animais domésticos coabitam e ouvimos:

“Há séculos que não tomávamos banho”, replica a mais pequena das irmãs ao ser lavada pelo pai, “Desde que foste embora, numa mais tomamos banho”.

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Face à miséria das famílias surge a necessidade de partir para a cidade em busca de um futuro melhor. E este desejo (do pai) embate contra o destino da irmã mais velha, dado que será mantida na aldeia sob a tutela do avô paterno, enquanto o progenitor leva as filhas mais novas com ele.
É inevitável sentirmos uma extrema compaixão por esta jovem pois, por um lado, aproxima-se tanto da nossa faixa etária e, por outro, viveu (e acreditamos, lamentando, continuar a viver) uma sina tão diferente da nossa. A nossa experiência é estética, a dela é vital. Mas ambas são perturbadoras.

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É chocante, inconcebível, que, num mundo globalizado e desenvolvido, existam situações de extrema pobreza e desigualdade social espalhadas pelo planeta. É terrivelmente hediondo saber que muitas famílias nestas condições não se encontram a milhares de quilómetros da nossa cidade – que estão por aqui, muito provavelmente bem perto de nós.
Aprendemos não só a conhecer um pouco este realizador, mas sobretudo que a fealdade só pode tratada com beleza pela Arte. Como fez Wang Bing.

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Ana Rita Félix e Inês Costa”

É tão bom saber que o filme ou filmes não terminam na sala de cinema. Acompanham-nos e suscitam diferentes questionamentos e  experiências estéticas.
Muito obrigada, Félix e Inês, por serem sensíveis e interventivas.

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Ficha técnica

Título original: San zimei
De: Wang Bing
Género: Documentário
Classificação: M/12
Outros dados: FRA/Hong-Kong, 2012, Cores, 153 min.

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